A mangueira do Santa Cruz

Após sete meses de isolamento penso em meus alunos e nos adolescentes.

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Quando essa pandemia começou lembro de ter pensando que ficariamos isolados somente algumas semanas. Após sete meses de isolamento penso em meus alunos e nos adolescentes. A adolescência já é uma fase que envolve muito lutos, uma fase na qual em alguns momentos a pessoa é pequena demais, por exemplo, eles não podem ir sozinhos a festas em casas noturnas. Em outras ocasiões são grandes para alguns comportamentos, fazer birra é uma das coisas que já não é bem aceita nesta fase da vida.

Ouço eles se queixaram e dizerem que é tempo demais para permanecer em casa e admito que estão certos. Os adolescentes lidam de uma maneira subjetiva com o tempo, diferente de nós adultos. É tempo demais para quem precisa de experiências para se conhecer melhor e construir a própria identidade.

Numa fase que envolve tantos lutos, eles agora vivem também o luto pela perda do contato diário e presencial com os colegas e com os professores. A escola é um lugar de memórias afetivas, a escola tem cheiro, a escola tem cores. É lá que eles convivem com os colegas. No pátio tem a sombra da mangueira, muitas vezes tive que passar com cuidado para não esbarrar em alguma criança que corria ao redor da mangueira.

Conheço uma garota que sempre se queixa por ter que acordar cedo e ir a escola, recentemente ela me disse que nunca mais vai se queixar por ter que ir a escola. A pandemia trouxe muitas dificuldades, mas ela nos mostrou também o quanto a escola é essencial. Saudades de ver as crianças correndo ao redor da mangueira do Santa Cruz.

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09/2020

Ana Leticia Guedes Pereira
Ana Leticia Guedes Pereira

Psicóloga e professora universitária na Faculdade Católica Dom Orione

Mestra em Psicologia Clínica (2012), na área de Família e Comunidade pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo- PUC-SP, onde estudou sobre a dinâmica relacional entre pais e crianças com TDAH.