O Coronavírus e a convivência com as crianças

Neste momento no qual todos temos que nos adaptar para minimizar os efeitos do Coronavírus.

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Neste momento no qual todos temos que nos adaptar para minimizar os efeitos do coronavírus, tive o meu isolamento quebrado pela minha vizinha que tem 8 anos de idade. Do seu apartamento ela me contou que estava com medo de não poder chegar perto de seu avô, pois ela havia visto uma reportagem na televisão recomendando o distanciamento entre crianças e idosos.

A preocupação da pequena me fez pensar no quanto nossas crianças podem estar sofrendo por não compreender esse período de quarentena e no quanto, em muitas ocasiões, nós, adultos, podemos subestimar as crianças, acreditando que precisamos poupar as mesmas de esclarecimentos que lhes possam causar desconforto.

Por outro lado, você, assim como eu, deve conhecer pessoas que colocam a carreira profissional como prioridade, esquecendo que as crianças precisam de atenção e cuidados que só podem ser dados pelos próprios pais ou responsáveis. Esse novo vírus nos fez enfrentar uma realidade que ninguém gostaria de vivenciar, porém, foi por causa do risco ocasionado pelo vírus que tivemos que permanecer isolados em nossas casas e, consequentemente, redescobrindo a convivência com nossas crianças.

O coronavírus é transmitido pelo ar, um elemento essencial para a nossa sobrevivência, este vírus está nos fazendo refletir sobre as relações que estabelecemos com as pessoas que amamos e em especial com as crianças. O investimento nas relações com aqueles que são próximos e queridos, como as crianças, é tão essencial como o ar que respiramos.

Minha vizinha só tem oito anos e estava preocupada com o seu avô, ela certamente se lembrará deste fato e do medo que sentiu ao pensar que, de repente, não poderia usufruir da companhia dele. Estes acontecimentos, ainda que indesejados, nos proporcionaram a oportunidade de refletir sobre as relações que estabelecemos com as outras pessoas. Pare e reflita, antes da quarentena, ocasionada pelo coronavírus, quantos pais que você conhece planejavam e realizavam atividades prazerosas em casa com seus filhos?

Este é um momento para realizar reflexões, devemos acompanhar a minha vizinha de oito anos em suas reflexões. Estamos de fato dando a devida atenção às nossas crianças? Foi preciso que o medo de uma ameaça como a que vivemos hoje nos fizesse compreender que precisamos investir em nossas relações com elas?

O Coronavírus deixará rastros em nossas vidas e para o bem de todos nós é bom que guardemos em nossa memória também esta oportunidade de reflexão sobre como estamos nos relacionando com nossos familiares e em especial com nossas crianças.

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03/2020

Ana Leticia Guedes Pereira
Ana Leticia Guedes Pereira

Psicóloga e professora universitária na Faculdade Católica Dom Orione

Mestra em Psicologia Clínica (2012), na área de Família e Comunidade pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo- PUC-SP, onde estudou sobre a dinâmica relacional entre pais e crianças com TDAH.